CULTURA CONTÁBIL E MODERNIDADE

As expressivas transformações ocorridas no fim do século XX exigiram nova forma de observar a educação em geral, e, especialmente, a exigível no campo da Contabilidade.
A queda do muro de Berlim provou que os regimes de Estados guiados pela autocracia e demagogia estavam falidos.
Por outro lado se comprovava através dos grandes bolsões de miséria que mercados não se resolvem por si mesmos e que a especulação desenfreada e cruel sustenta a má distribuição da renda.
O progresso da ciência, somado às duas grandes falácias referidas mostrou que uma terceira opção se fazia necessária.
Entendeu-se que o bem estar das Nações deve buscar-se em uma prosperidade de caráter humano e que uma cultura específica deveria ser implantada sobre as cinzas do socialismo fanático e do capitalismo canibal.
As ciências, pois, da área humana passaram a receber maior atenção e embora o mundo não tenha ainda uma consciência global, necessário é abrir caminho para que esta venha a ocorrer dentro de uma macro-ética, esta passando pelos procedimentos do progresso das células sociais (de empreendimentos dos seres humanos).
Sinaliza tal tendência o fato de no ano de 1999 a Organização das Nações Unidas, em publicação específica, haver apresentado o que se deveriam admitir como linhas gerais da educação dos Contadores, estes como importantes artífices e responsáveis pela construção de uma “nova era de prosperidade como bem estar dos povos”.
Para tanto ofereceu um currículo vasto, abrangendo os ângulos principais que deveriam formar a base educacional de um profissional da Contabilidade.
Considerou a nova realidade do mundo e também que a atual política de mercados estava a requerer uma preparação especial para essa importante profissão.
Reclamou não só a necessidade de informações de melhor qualidade, mas, pelo currículo apresentado, evidenciou a relevante importância da consultoria e assessoria às empresas, por parte dos contadores.
Afirmou, categoricamente que tais profissionais deveriam ter visão além das fronteiras de seu país e que todo o mundo na atualidade estava a necessitar de qualidade cada vez maior dos serviços especializados da área contábil.
A publicação da ONU evidenciou, clara e ostensivamente, que o profissional da Contabilidade é imprescindível ao desenvolvimento econômico, social e até político de qualquer nação e que isto exige uma formação cultural vigorosa e assistência especial a eles, quer por parte dos governos, quer das instituições de classe.
Destacou, pois, como matérias educacionais as que abrangeriam não só casos particulares, mas, também de ciências correlatas e até gerais.
Nas matérias específicas foi enfatizada a necessidade dos conhecimentos nas áreas de técnicas informativas, fluxos, custos, auditoria, análise, planejamento e modelos para decisões estratégicas.
Nas matérias correlatas e gerais destacaram as relativas ao Direito comercial, tributário e civil, Economia geral e de mercados, Administração geral e financeira, Estatística, Matemática geral e financeira, Relações Humanas, Organização e Ética.
A publicação concentrou-se em detalhar currículos e o fez em quase 100 páginas, podendo-se, oferecendo uma idéia da extensão e quantidade de matérias envolvidas.
Ressaltou a necessidade de cursos universitários com vasta especialização e entendeu como imprescindível a qualificada graduação (extensão universitária, mestrado e doutorado), como, também a permanente atualização do conhecimento, em razão do caráter evolutivo acelerado das matérias.
A publicação da Organização das Nações Unidas foi dividida em duas grandes partes: a primeira dedicada a Linhas Gerais para sistemas nacionais de qualificação dos Contadores e a segunda ao Currículo Global para a Educação profissional dos Contadores.

Na referida parte segunda a matéria foi disciplinada nos seguintes itens:
1) Conhecimentos de Organização e Negócios;
2) Informação Tecnológica e
3) Contabilidade e conhecimentos correlatos.

Os três itens descritos subdividiram-se em Módulos.
No item de Organização e Negócios os módulos foram: Economia, Métodos quantitativos e estatísticos, Política de Negócios e Estruturas organizacionais, Funções e praticas administrativas, mercadologia nacional e internacional e estratégia administrativa.
No item de Informação Tecnológica um só modulo apresentou e esse se dedicou a tal Informação.
No item terceiro, Contabilidade e Conhecimentos Correlatos, o mais vasto, os módulos se estenderam aos currículos de:
Contabilidade básica e preparação de demonstrações em face de normas internacionais, Contabilidade superior, relatórios contábeis de nível superior, conceitos básicos de administração, Contabilidade Gerencial, Planejamento, Controle e Decisão, Tributos, Leis comerciais, Fundamentos teóricos, Teoria Superior da Contabilidade e Finanças de negócio e Administração Financeira.
O importante documento deu destaque a uma forte conotação teórica para sustentar as aplicações do conhecimento contábil e uma preocupação vigorosa em uniformizar a educação contábil em todo o mundo, dando, à mesma, uma abrangente preparação.
Coincidentemente ou não, no mesmo ano de 1992, o Conselho Federal de Educação, finalmente, emitiu Resolução alterando a linha dos cursos de Ciências Contábeis (esta que por décadas era ensejada).
Ocorre que a realidade nesses últimos anos sofreu modificações e o denominado “Processo de Bolonha”, hoje em implantação em toda a Comunidade Européia, deu passos à frente, integrando a especialização, ou seja, fazendo de bacharelado, mestrado e doutorado todo um sistema de formação cultural, como se unidade fosse, sem as muralhas que no Brasil, se tem imposto a tal procedimento.
O procedimento dos europeus visou a facilitar, em vez de dificultar (como tem ocorrido) todo um curso de aperfeiçoamento, este deveras necessário à formação e atualização permanente dos contadores.
Aperfeiçoamentos não devem ser coisas atadas a um cartelismo, nem devem ser tidos como privilégios de grupos, mas, sim, algo a todos acessível, pois, só desta forma terão caráter de qualidade a serviço das nações.
Se nossa pretensão é realmente a de não estar na contramão da história, necessário é desatar os nós que ainda emperram a evolução do progresso cultural no Brasil, ensejando que uma cultura deveras universitária prevaleça, sem subserviência e com portas realmente abertas.

Antônio Lopes de Sá







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